sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Popularidade de Lula nos dois mandatos ofusca oposição "sem identidade"


publicado em 31/12/2010 às 18h36:

À vontade no cargo, presidente dialogou pouco com seus adversários.

Wanderley Preite Sobrinho, do R7

Ricardo Stuckert/PR
Ricardo Stuckert/PR

Lula chega a São Gabriel da Cachoeira (AM), em 2007, e é recebido

calorosamente pela população


Nem só de carisma e programas sociais vive a popularidade histórica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trabalhando durante oito anos contra uma oposição desorientada ideologicamente, ele não teve problemas para alcançar uma aprovação popular de mais de 80%, como mostram os institutos de pesquisas. Para especialistas ouvidos pelo R7, o conforto de Lula foi tanto que ele errou a mão na hora de lidar com seus adversários.

Apesar de não ter conseguido aprovar a Reforma Tributária e de ter perdido R$ 40 bilhões por ano de arrecadação com a derrubada da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), em 2007, Lula perdeu poucas batalhas importantes no Congresso Nacional e terá poucos motivos para reclamar. No ano de 2008, por exemplo, a oposição só conseguiu barrar 51 projetos do governo, que ganhou outras 112 votações, segundo uma pesquisa da consultoria política Arko Advice.

O cientista político da UnB (Universidade de Brasília), Leonardo Barreto, diz que Lula viveu uma exceção na história dos presidentes brasileiros.

- Mesmo Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek sofreram na mão da oposição.

O estudo mostra que os parlamentares do PSDB, DEM e PPS (os principais partidos da oposição) preferiram atuar de duas maneiras na hora de decidir sobre um projeto do governo: ou não apareciam para votar ou obstruíam a sessão para dificultar a aprovação das propostas. O PSOL foi mais claro: votou contra o governo em 37% dos casos em 2008.

Para o cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP (Universidade de São Paulo), a tática de PSDB, DEM e PPS foi um tiro no pé. Ele diz que a oposição perdeu a chance de conquistar os insatisfeitos com o governo mostrando suas alternativas aos projetos de Lula.


- É uma coisa básica na democracia, mas não tivemos oposição ao governo Lula. Ela não foi capaz de apresentar à sociedade alguma alternativa, indicando medidas, possibilidades que poderiam ser qualitativamente melhores do que as do presidente.

Ele diz que isso aconteceu porque os partidos da oposição estão ideologicamente perdidos e muito distantes do povo.

- A oposição não pode existir só no Parlamento. Ela tem de ter braços na sociedade. Os partidos não estão captando o que ela deseja. Ao não desenvolver essa relação, suas teses ficam muito vagas e não tocam nem o coração nem a mente dos eleitores que cogitam votar na oposição.

Lula não respeitou eleitores dos outros

Ao brigar com adversários frágeis, Lula ficou tão à vontade na pele de situação que errou na lida com os adversários, dizem os especialistas.

Para Moisés, o presidente não respeitou o fato de a oposição representar uma parcela de eleitores que não votou nele. Como exemplo, ele cita o episódio em que Lula pediu, em setembro, a extinção do DEM em um comício da então candidata presidencial Dilma Rousseff, em Santa Catarina.

A cientista política e professora da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), Maria do Socorro, diz que, em vez de fortalecer o sistema partidário, Lula estimulou a migração de parlamentares para as legendas aliadas ao PT.

- Os partidos estão cada vez mais parecidos, o que torna fácil atraí-los para o governo.

Depois de oito anos longe do poder, como será que PSDB, DEM e PPS vão atuar contra Dilma? Para Barreto, os partidos precisam olhar para o espelho.

- Ao PSDB: é possível ser social democrata sem base sindical? E o DEM, o que é? Seu liberalismo se apoia em quê? E o PPS, acredita no socialismo? Esses partidos não têm identidade.

Fonte: ww.r7.com